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Joinville, Santa Catarina, Brazil

Poesia - OLHOS DE JABUTICABA

Faz muito tempo que eu queria te dizer isso,
que você é minha pedra preciosa,
minha estrada, o caminho por onde sigo,
minha lua, meu sol, minha casa.
É você que alimenta o meu viver.

Quase te perdi para o meu trabalho,
mas foi a tempo que reconheci
que estava errado, o tempo inteiro.
Você lutava pra vencer a solidão
e me esperava e eu não te amava.

Mas fiquei embevecido com seu corpo
que me esperava, ansioso por um toque,
Ávido de esperança por um abraço,
lânguido, desejoso, mas também puro...
Apaixonei-me de novo, te amo, não tem jeito.

Quero envelhecer ao seu lado,
quero vê-la com cabelos brancos...
Olhe para mim: já tenho os meus.
Agora falta você, porém é tão jovem.
Os seus anos não passam tão depressa.

Sou confiante de que Deus está agora mesmo
aqui ao nosso lado, nos fazendo felizes,
dando-nos oportunidade para recomeçarmos,
assim como as árvores, que perdem suas folhas
durante o outono, mas na primavera se renovam.

Sinto medo quando você fica longe,
pois a distância é como um veneno;
as horas separados são torturantes.
Quero vê-la, senti-la, amá-la
como se sempre fosse a primeira vez.

Conseguimos rir juntos ao nos declararmos
depois de tantos conflitos e tantas dúvidas,
e seus olhos voltaram a brilhar
fulgurantes, como jabuticabas,
revelando a pureza de sua alma.

Como me arrependo de ter te ignorado,
mas você sabe o quanto te amo.
Às vezes a cabeça não está boa,
Mas o coração sempre está
Te procurando, certamente.

Você sabe que eu te amo,
não há nada que perturbe nosso amor.
Não se sinta desprezada
se não te procuro, pois respeito
o seu cansaço e o seu descanso.

Repousa no meu peito, doce amor meu,
não pense que deixei de te amar;
é somente o horário das obrigações
que nos separa, e nada mais.
Não sofra, mesmo longe, você está em mim.

Diga que também me ama,
para mim também é importante te ouvir.
Não responda que vai desistir.
A nossa jornada não tem fim.

Eu preciso de você, minha vida,
minha paixão, mulher linda
que Deus me deu,
mulher pura como os anjos.

Quero vê-la confiante, firme,
constante, deslumbrante.
Basta olhar para mim,
olhos de jabuticaba,
Para abrilhantar meu coração.

Penso em você a todo instante
e luto por você,
razão da minha existência.
Não se preocupe tanto,
você é exclusivamente minha
e, da mesma forma, sou todo seu.

Quero envelhecer ao seu lado,
Fazer com que seus olhos brilhem sempre,
Sussurrar palavras de amor,
Cantar, cuidar de você,
Razão da minha presença neste mundo.

Poesia - MAIS UM ANO QUE SE PASSA

Vem, amor, veja quem sou
Não esqueça o que passou
Os anos passam
Mas meu amor por você não.

Mais um ano que se passa
E eu lutando contra o pavor
que sinto em te perder.

Mais um ano que se passa...
Sua presença me transformava,
curava minha carência.
Te busco em toda parte

Quem sabe, você sozinha
No quarto, na cozinha,
Sem vontade para nada
Possa vir à sua lembrança
Bons momentos que vivemos
E então sentirá saudades
E a saudade lhe mostrará
O quanto fomos felizes.

Vejo teu olhar
Em todo lugar
Encontro você
No meu pensamento
Basta amar
E depois sonhar
Em teus braços
Busco alento
Preciso de você.

Prosa Poética - A SINFONIA DA PAIXÃO

Palavra dita na hora certa, um tanto inquieta, sugestão onírica de demasiado enlevo; sensação vaga, porém, pulsante, corre desvairada por entre litros de glóbulos vermelhos.
O olhar curioso, irracional, capta na menina dos olhos – pupilas semelhantes a portas abertas da alma, a melancolia daqueles que são surpreendidos como alvos de perscrutação.
As palavras e o olhar – determinantes de direção como seres independentes que esquadrinham a rocha, destroçam-na e em seguida a lapidam com paciência, agem na robustez aparente e tornam dóceis as emoções fervilhantes.
Dias e noites chegam e se vão, entretanto, o pensamento, ansioso, permanece feito flor trepadeira, crescendo a cada instante e se emaranhando em derredor do coração.
Fadas, duendes, princesas, reis, heróis participam da fábula e, do encantamento ao êxtase basta um faz-de-conta.
O amor a primeira vista é culminante para o conflito de emoções e a peneira dos valores é sacudida. Resta o interesse sincero, a devoção, a confiança e a sede pela continuidade da história primaveril.
A fragrância exalada no primeiro contato evoca a pureza do espírito, este despido de qualquer mediocridade, não menos iludido com a perspectiva da felicidade.
Um abraço parceiro – convite para a inocência, busca o prêmio mais almejado. A respiração rarefeita, o corpo trêmulo e sem força para se desvencilhar da intensidade do aconchego, permite o primeiro toque, indeciso, suave, sôfrego, material e simultaneamente sublime.
As mãos se alcançam e se tocam e os dedos também se entrelaçam como um abraço. A epiderme nua recolhe impressões táteis que conduz ao hipotálamo e os neurônios, nervosos, estralam feito galhos secos, depois explodem em delirante fusão.
A face ruboriza-se, atraindo a temperatura pirética e os olhos se fecham, deixando a audição amplificada e aflorando a sensibilidade latente. Subitamente, o maestro congela o tempo e paralisa a batuta no ar até movimentá-la freneticamente indicando o clímax do concerto.
Arrepios, como ondas elétricas, percorrem a região periférica das terminações nervosas durante o momento em que os lábios se tocam; estes macios, delicados, paciente, doces. A orquestra toca em desvario, os acordes soam no compasso cardiorrespiratório dos seres que se consagram em um só através da reciprocidade de sentimentos.
Palavras, nesse momento de eternidade, cedem lugar aos aplausos dos corações resgatados pelo júbilo. Olhos sorriem ao se encontrar imersos na águas do desejo que se acalmam. Dúvidas findam a quimera e o universo se torna apenas um esboço da plenitude.

Poesia - UM POETA QUE SE CHAMA CELSO

 Quanto tempo está por vir,
sei que o tempo não vai passar.
Deixe o número do seu telefone
Pra eu poder te ligar.

Pra você guardei o amor
que eu nunca soube dar.
O amor que tive em mim
senti sem conseguir provar.

Sei me entregar e repartir.
Pra você guardei o amor
que aprendi vendo meus pais,
e que hoje posso dar,
livre e feliz.
o que guardei só pra você.

Se você fosse o mar,
Eu seria o barquinho
pra estar sempre navegando
nas ondas do seu corpinho.

A hora é agora,
Todo mundo correndo:
O homem bombado,
tá aparecendo!

As horas passam
e eu louco pra ir pra rua,
Já estou imaginando
que vou sentir muita saudade sua.



Restam poucos dias
e este dia vai chegar,
aí eu vou embora,
nunca mais vou te incomodar.

Foi muito bom te encontrar,
melhor foi te conhecer
agora vou embora,
mas nunca vou te esquecer.

Se um dia estiver
triste e aborrecida,
lembre que sou
o amor da sua vida.

Você é a flor
que perfuma meu jardim,
mas nada adianta
se você não liga pra mim.

Esta noite tive um sonho
e no sonho assim dizia:
que você um dia
ainda será minha.
Espero este dia.

Você parece uma rosa no jardim,
Estou pensando
que Deus tinha feito
você pra mim.

Se você fosse uma rosa,
eu seria o canteiro
para estar em seus braços
o dia inteiro.


Se amar for pecado,
eu morrerei pecando;
só sei que meu coração
por você continua esperando.

Se olhar para o céu
e vir que vai chover, pense,
pois são lágrimas dos meus olhos
com saudades de você.

Esperei 26 anos
e você não apareceu;
agora tem outra ocupando o lugar
que podia ser seu.

Prosa Poética - OS MINUTOS DO MEU PENSAMENTO

Passo cada minuto pensando em você, imaginando uma conversa entre amigos, trocando frases sem sentido, eu só ouvindo, pois me acho tola perto da sua segurança.
Imagino você saindo de casa, beijando sua mãe, abraçando o seu pai, afagando o cãozinho.
Vejo você chegando à escola, se apressando para não perder a primeira aula.
Às vezes, penso em você discursando sobre física nuclear e ensinando algoritmos a jovens estudantes. Julgo que você é inteligente demais para mim, pois suas equações e raízes matemáticas representam hieróglifos para minha humilde ignorância.
Olho você quando está ouvindo MP3 em seu smartphone.
Aprecio seu jeito bem-humorado e seu sorriso, e lamento quando o vejo pensativo e desmotivado, tentando segurar a barra e dar um jeito no mundo inteiro.
Submeto-me a um momento de delírio em que minha pele toca a sua, porém, fujo assustada do pensamento.
Obra de meus 16 anos inexperientes de amor e doação.
Então viajo nas vagas lembranças da imaginação que me conduz ao caos de um instante que nunca aconteceu.
Sonho.
Fantasia.
Ilusão de menina imaculada que desperta para a vibração de um coração em turbulência, afetado por canções românticas e cenas pitorescas de paixão e pureza.
E descubro que desejo ver você a cada instante, mas o embaraço quando lhe encontro causa formigamento nas pernas e o meu coração quer provar que consegue ser atleta saltando bem no meio do esôfago contraído.
E novamente estou aqui, esperando que você passe por mim, porque só posso lhe observar, o que me provoca uma sensação de extremo encantamento frente a você, vivido, lindo, inteligente, prático.
É o meu jeito de amar você.

Conto - Eu vou te levar ao mensageiro do Templo

O helicóptero preto de guerra surgiu no céu nublado e se aproximava da casa. O som de suas hélices em funcionamento constante penetrava nos ouvidos e fazia a mente trepidar. Na janela da cozinha na casa de meus pais eu podia sentir e ver o grande pássaro metálico aproximar-se perigosamente da porta e, sem ver o homem que estava subindo no aparelho, ouvia-o falar.
De repente, a imagem se perdeu e eu me senti imóvel na cama, adormecida, sussurrando por socorro. O grito não saía e eu movimentava minhas mãos freneticamente com a consciência de que estaria em perigo e ficaria presa para sempre naquele pesadelo. Eu tentava agarrar-me em alguma coisa e sabia que estava sonhando e que o Márcio estava ao meu lado na cama. Bastaria segurar a mão dele e eu estaria segura. Entretanto, o desespero aumentava e eu sabia que iria morrer, pois não conseguia alcançá-lo.
Surgiu então a imagem de um vasilhame azul de louça e dentro havia polenta que estava se cortando sozinha sem ser retirada de dentro do pote. Subitamente, uma mensagem apareceu em um dos retângulos de polenta, repetido no segundo retângulo da seqüência. “Eu vou te levar ao mensageiro do templo.” Ao ler a mensagem, eu sabia: precisaria de ajuda ou não sobreviveria...
Abri meus olhos, despertando repentinamente, mas ainda imóvel e sentindo dores no corpo inteiro. Ainda encontrava-me agarrada ao pesadelo e decidi que teria de acordar. Meus olhos fecharam-se mais uma vez e eu voltei a entrar em desespero. Forcei meus olhos a se abrirem e tentei movimentar-me. A mensagem aparecia a cada instante que meus olhos se fechavam, mas, finalmente, consegui agarrar o braço do Márcio e fui içada para fora do pesadelo.

Conto - O ECLIPSE

Um grande evento estava prestes a acontecer no plano mais alto do planeta Terra : o eclipse entre o planeta Saturno e o Sol. Pessoas de todas as idades e todas as etnias se reuniram no topo de uma montanha, onde brotava a fonte de toda a água doce do nosso planeta. Em volta da fonte líquida de riqueza mineral, fora construída uma sacada com vista para o fenômeno espacial. As pessoas se acotovelavam para se aproximarem do local onde melhor poderiam presenciar o eclipse. Eu me esgueirava no meio da multidão, acompanhando todos os movimentos. Vi então um menino de pele morena clara perto dos pais e algo naquela cena me empertigou.

Ainda era dia quando o planeta Saturno, com seu anel, iniciou sua etapa de aproximação com o astro rei.  As pessoas ficaram eufóricas. Uma mulher tentou se equilibrar no muro à esquerda da área da vista para a nascente, mas depois de alguns segundos, não suportou o peso do próprio corpo e pulou para o chão, procurando novamente lugar no meio das pessoas que acompanhavam o eclipse. Enquanto isso, eu desci do topo do planeta e comecei a caminhar no meio da vegetação. Parei atrás da equipe de fotografia e imagem de uma rede de TV, observei os veículos estacionados em ângulo e um garoto de uns quatro anos andando de bicicleta. Ele estava pedalando diretamente para a borda do precipício que dava para a nascente. O meu medo aumentou quando vi que ele não parou a bicicleta. Tentei sair do lugar, mas meus olhos estavam presos ao céu: Saturno estava se sobrepondo ao sol e o dia começara a desaparecer.

A água da represa onde ficava a nascente começara a se agitar com o vento que soprava assustadoramente. O menino continuava pedalando para a borda da represa e desabou no precipício, e foi levado pela água turbulenta. Pessoas começaram a se agitar para resgatá-lo, mas foi naquele momento que uma descarga elétrica atingiu a barragem e a passagem para o topo do planeta. Houve gritos de desespero frente ao tornado que passou pelo local. As pessoas se agarraram no que sobrava da vegetação. Quando o planeta serenou e o eclipse terminara, observei o mesmo menino de pele moreno-clara, sozinho, andando a esmo na praia que se formara ao lado da barragem destruída, e deduzi que provavelmente estava à procura dos pais, que haviam desaparecido durante o cataclisma.

Um homem se apressou em alcançar umas tábuas encharcadas caídas no meio do mato para formar passagem para os sobreviventes seguirem seu rumo. Atravessei pelas tábuas e em seguida, cheguei a um vilarejo devastado pelo temporal. Uma mulher procurava no meio dos entulhos um chinelo que faltava ao par que ela trazia calçado, um homem com a barba por fazer reclamava de suas roupas encharcadas, havia lixo, cadeiras e bancos de madeira espalhados, restos de construção, uma ou outra árvore desfolhada ou caída, deixando à mostra suas raízes. O que mais me chocou foi ver crianças matando sua sede com a água suja das poças e vomitando a lama da qual haviam se alimentado, porque a escassez de comida era completa. O menino moreno-claro continuava caminhando sem direção, e em seu rosto pude notar sinais de abatimento e preocupação.

Um casal surgira no meio daquela imagem desoladora. Pelo que pude ouvir, eles precisavam sair daquele vilarejo e voltar para a terra natal, onde moravam os pais da mulher. Segui-os sem saber para onde iam. Imaginei que fossem eles os pais daquele menino que perambulava pelos entulhos e senti urgência em comunicar isso àquele casal. Entretanto, eu era somente um fantasma, eles não podiam me ver nem ouvir, e isso provocou em mim enorme frustração. Eles continuaram seguindo a pé, ela dando a mão a ele, como que para não se separarem também os dois. Chegaram em uma estrada pedregosa que subia. Ouvi uma exclamação de felicidade: "Eu não estou acreditando! O destino nos trouxe de volta ao nosso lugar de origem!" e observei o que havia deixado a mulher tão animada. Consegui enxergar apenas pinheiros monumentais, que formavam um corredor para a estrada. O casal então chegou ao seu destino: encontraram os pais da mulher, que ficaram extasiados por terem sobrevivido ao desastre. As instalações eram precárias, eles viviam embaixo das árvores de uma floresta escura, onde não penetrava luz solar, entretanto, pareciam felizes.

O casal foi para o local de descanso e eu continuei minha exploração. Estava cansada com tanta escuridão, e só então percebi que já havia anoitecido. Cheguei a um local semelhante a um criadouro de animais, mas só vi valas, coxos e baias. Não havia animais. Encontrei uma mulher conversando com um homem e subitamente ela começou a correr para fugir de algum perigo que a estava atemorizando. Ouvi a voz rude de uma mulher ordenando aos capangas para apanhar a intrusa. Observei que a mulher que estava sendo perseguida escapou, porque deitou em uma das valas e ficou submersa nos resíduos fecais dos animais. Quando a equipe de busca passou pelo local, ela imediatamente se levantou e correu para o lado contrário. Fui atrás dela, queria perguntar porque razão ela fugia. Mas ela não me dava ouvidos, estava ocupada demais tentando se salvar. Subiu em uma parede, atravessou algumas tábuas e se jogou sobre o telhado ao lado. O barulho da queda atraiu os homens que a perseguiam. Latidos e exclamações abafadas misturavam-se ao pânico e à escuridão derradeira. Mas ela conseguira escapar e a equipe se espalhou.

Subitamente voltou à minha memória o menino que se perdera dos pais. Eu o vi novamente, mas os anos haviam dado a ele barba, tamanho e uma boa idade. Foi naquele momento que ouvi sua voz, lamentando todo o sofrimento que passara ao se separar dos pais logo na infância.

Crônica - A CASA DE ENXAIMEL

Tijolos maciços metodicamente enfileirados e encaixados em vigas de madeira de lei. Nas paredes, reboco somente no interior. Assoalho de tabus. Sótão. Telhado em triangulo quase íngreme. Varanda. Escadaria. Construção pitoresca alemã.
Vivi nesta casa durante 22 anos e depois que meus pais se mudaram e que a mesma foi demolida, chorei. Parece que eu tinha perdido algo de muita estima.
A casa não era confortável, os cômodos mal distribuídos. Era escura e fria. Não tinha lavabo. O sanitário ficava do lado de fora. Os móveis eram todos antigos, gastos, de baixa qualidade. Energia elétrica, somente em 1980. Havia um prolongamento nos fundos da casa, onde existia um rancho e neste local havia o forno a lenha, os esmeril, as gaiolas para criação de pintinhos, a oficina de meu pai, e colado ao rancho, um pequeno galinheiro.
O riacho passava pelos fundos da casa. Não havia agua encanada e era desse rio que se buscava agua, aos baldes. Havia uma pequena horta ao lado da casa. Na frente, um jardim com cerca de bambus. A entrada sombreada por altaneiras palmeiras e o caminho margeado por hortênsias e arbustos. em toda a volta, pomares, plantações e mata virgem envolviam c=a casa, que ficava protegida pela beleza da natureza intacta.
Mesmo que as condições de vida não favorecessem o conforto, aquela casa continua fazendo parte importante das minhas lembranças e até dos meus sonhos. A saudade aperta o peito quando os olhos da minha memória percorrem aqueles cômodos. Por ser uma moradia bastante afastada da vila, eu tinha somente meu pai, minha mãe e minha irmã. Vivia sob a dependência absoluta do carinho e amor deles. E é desses tempos remotos que recordo.
A casa de enxaimel não existe mais; pertenceu a uma época longínqua que permanece apenas na lembrança, uma recordação boa de tempos que não resistiram à passagem dos anos.

Crônica - ALUNA FOFOQUEIRA

Certas ocorrências marcam nossa vida ora de forma positiva, ora de forma negativa, naturalmente. E quando somos crianças, o impacto de determinadas recriminações recai atrozmente sobre nosso âmago em incalculável proporção.
Sempre me esforçara para ser uma boa filha e uma ótima aluna. Preocupava-me sobremaneira agradar a todos em minha volta, pois, ainda infante, o complexo de inferioridade teimava em me desvalorizar. Obedecia prontamente as petições da professora do 3º ano fundamental, uma vez que a estimava como que devota a uma celebridade. Por conseguinte, minha idolatria retornava em estímulos como nota 10 com estrelinhas ou um recado amistoso no caderno ou ainda elogios oriundos da professora que estufavam meu pai de orgulho. Já minha mãe era indiferente, porque dizia que o estudo não passava de uma obrigação minha, uma vez que ela não exigia que eu auxiliasse nas tarefas domesticas.
Um dia, estávamos brincando no recreio eu e todos os colegas; eu ouvia as outras crianças se queixando umas das outras para a professora. Eu observava que a professora ouvia a todos com atenção e eu também senti necessidade daquele momento de exclusividade. Lá fui eu, decidida e alegre, reclamar que meu colega tinha esbarrado em mim e ainda por cima puxado meu uniforme com força. Tratava-se da verdade que eu aproveitei como oportunidade para me aproximar da professora. Esta, porém, reagiu com uma inesperada repreensão:
Não gosto de aluna fofoqueira!
Enquanto ela dava as costas, indiferente a meus sentimentos, eu fiquei imóvel, face translúcida, peito oprimido e glote dilatada. As lagrimas não tardaram. Os soluços inconsoláveis também vieram acompanhar a reação. Não fora a primeira vez que a professora desprezara. No ano anterior, havia ela me beliscado durante a execução do hino nacional. Em 1983, o hino era cantado por todos os alunos uma vez por semana em posição de sentido e com hasteamento da bandeira nacional. Certamente eu estava fora do tom, mas não perguntei por que ela me beliscara e emudeci no mesmo instante. As outras crianças não se aborreciam ou choravam com qualquer coisa, porém, eu fora extremamente sensível e insegura e o resultado desse tipo de tratamento se reflete em minha vida adulta. Prevalece a indecisão, a ausência de iniciativa, o estado depressivo intercalado com rompantes de alegria e otimismo. Contudo, a “aluna fofoqueira” cresceu e aprendeu a se valorizar, embora as experiências do passado tivessem deixado danos ao emocional. Além disso, a mesma “aluna fofoqueira” sente aversão por fofoca. Ela somente não se permite cantar.

Crônica - A CIDADE

A cidade parece um ir e vir sem razão. Trabalhar, consumir. Enquanto alguns trabalham para consumir, outros consomem para trabalhar. Outros ainda trabalham para que outros consumam. Que sentido existe para um ciclo como este?
Na selva, a cadeia alimentar forma um ciclo natural de predadores e o mais forte devora o mais fraco. A vida urbana também gira em ciclo semelhante, só que com o nome de concorrência. Vencem aqueles que têm mais patrimônio para se fortalecer por meio da educação, salvo inúmeras exceções de pessoas que não se restringem a suas condições menos favorecidas e lutam para alcançar seus objetivos.
Os predadores urbanos concorrem para se apoderar de um território e assim dominá-lo. O instinto de sobrevivência sobrepuja a convivência salutar do ciclo de concorrentes. A natureza sabe que precisa sobreviver e nem por isso desperdiça uma presa. A mata de cimento, por sua vez, não economiza recursos e os restos são lançados a esmo. Esse efeito danoso do consumismo despreocupado alimenta a ilusão de poder e garantia de sucesso a qualquer preço.
Enquanto os sobreviventes das matas literalmente lutam para garantir seu espaço, os concorrentes urbanos seguem na batalha para manter o ininterrupto ciclo do consumo. Este último, porém, é indispensável à continuidade da vida, pois gera emprego e renda para os milhares de habitantes deste planeta permanecerem no ciclo. Sentido este que continua um enigma.

Poesia - ABANDONA

Abandona, me erra,
você não tem cabeça
pra andar na minha.
Abandona, sai dessa,
assim você se ferra,
não quero ficar sozinha.

Tá lento, faz tempo
que já tô em outra,
querido, só lamento.
Você tanto demorou
que a fila já andou.
A gente não se encontra.

Você só quer pegar
e eu cansei de esperar
você tentar mudar.
Cai fora,
agora,
chegou a minha hora.

Poesia - GARANTIDA PAIXÃO

Sou uma mulher sorridente,
e sob um olhar diferente,
vejo o que a vida tem de bom.

Quando digo ter esperança,
otimismo e confiança,
é que acredito no meu coração.

Nada surge por acaso,
nem mesmo um beijo ao ocaso,
não há limites pra emoção.

É desse jeito que amo você
enfrento tudo pra lhe pertencer,
eterno é o amor, garantida a paixão.

Falta você se decidir,
entrar na minha e sentir
que vale a pena nossa união.

Poesia - ENFERMEIRA DA PAIXÃO

Tenho febre de ter você,
o peito dói sem um beijo seu,
volta, amor, vem me curar,
enfermeira do meu coração

Não me recupero sem o seu amor,
não tem vacina pra recordação
do seu cheiro e do seu calor,
do aconchego dessa paixão.

Fico mal, me dá até tremor,
enfraqueço sem sua presença,
vem aqui, trata dessa doença,
cuida de mim, anestesia essa dor.

Dói demais essa saudade,
nem beber tenho vontade,
vem, seus beijos me curam,
sou paciente da ilusão.

Poesia - PLANTÃO DE AMOR

Olho dentro de sua alma
e nas suas lágrimas mergulho;
estreito meu abraço
oferecendo-lhe proteção.
Peço, firme, mas com calma,
uma trégua em seu orgulho.
Deixe-me aliviar seu cansaço,
aninhá-lo em meu peito,
dar-lhe merecida atenção.

Sinto em mim seu sofrimento,
algo novo, um instinto,
seu tormento eu acalento.
Abra de uma vez seu coração.
As gotas de tristeza
transbordam a minha emoção.

Toco sua pele,
percorro de leve,
insegura, reticente;
os dedos deslizam
em seu rosto tão belo,
ajeitam seu cabelo,
mas não esperam reação.

Você assim, deitado,
é como anjo, imaculado.
Beijo seus olhos úmidos,
esquecendo qualquer temor.
Dorme tranquilo, meu amor,
estou de plantão.

Plantão do amor,
é assim que sou,
tomo conta de você,
seu olhar é tudo o que preciso.
Plantão de amor,
eu não adormeço,
fico vigiando seu coração.
Acredite, é só o começo.

Espero apenas que você permaneça
seguro em meus braços,
não faço nenhuma exigência.
Disfarço meus embaraços,
pois me faz bem sua presença.

Poesia - FÃ DA PAIXÃO

Por que você me ignora?
Sou bem mais que uma admiradora,
eu sou sua fã número um.

Pra você sou tão normal,
como qualquer outra,
não tenho estilo,
sou só mais uma.
Mas eu quero mudar isso
e fazer você me notar.
Você vai ver,
vai me conhecer de verdade.

Não é possível,
não consigo entender
como só você não vê.
Eu te amo demais.
Quando é que você vai perceber
que eu pago mico
só pra chamar sua atenção?

Mas um dia você vai me querer
e eu ainda vou estar aqui
pronta pra te receber.
Não vou desistir.
Admiradora como eu
você não vai ver mais.
Eu não vou desistir.
Sou sua fã para sempre.

Poesia - PENSAMENTO EM VOCÊ

Voar cada vez mais alto,
sonhar com cada instante
ao lado seu.
Tudo o que faço
fica largado no ar,
porque não consigo
desistir do pensamento
constante em você.

A razão manda parar,
o coração, não, jamais,
ele só quer te amar,
cada instante muito mais.

Enquanto eu viver,
não esquecerei dos sonhos,
cada hora que eu quiser
voarei para perto de você.

Meus olhos transbordam,
meu coração se entregou
a esse amor, essa paixão.
Não esqueça
de quem sempre te amou.