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Joinville, Santa Catarina, Brazil

CAPÍTULO 5 - PARTE I - O DIA SEGUINTE


O sol já despontava no horizonte e seus raios tímidos penetravam no quarto de Tatiana, que observou o relógio no criado-mudo e tentou levantar de sua cama. Ela sentia-se tonta por causa da noite mal dormida e uma fraqueza momentânea fez com que ela voltasse a se sentar pesadamente sobre a cama. Ela tocou seu rosto e percebeu que estava muito quente, provavelmente estava com febre. Procurou forças para caminhar até a cozinha e tomou um copo com água. Encheu a chaleira e colocou-a sobre a chama do fogão, com a intenção de fazer café. A tontura e a fraqueza ainda a maltratavam e ela não conseguia enxergar através da visão turva.

Depois que o mal-estar passou, ela resolveu tomar banho e parou na frente do espelho. Não havia retirado as roupas que usara no casamento e por um instante permaneceu imóvel admirando a beleza que via na mulher diante do espelho.

Sua imaginação voou longe ao lembrar de Paulo. Ela imaginou como seria se o casamento tivesse dado certo. Teriam jantado e voltado para a casa dele, onde ele teria preparado um quarto separado para ela dormir. Tatiana tomaria banho e iria deitar-se, mas choraria porque desejava casar com Paulo de verdade. Tudo seria uma farsa e cada um deles continuaria sua vida sem que se encontrasse para conversar ou mesmo...

Tatiana sacudiu a cabeça para afastar suas fantasias, não se permitindo a ideia de desejá-lo e amá-lo. Paulo talvez se sentiria grato por ela ter tentado ajudar, mas nunca a amaria, porque seu interesse era claro: livrar-se de Elisabete.

Chorando, ela despiu-se rapidamente e atirou as roupas sobre a cama, seguindo para o banheiro, onde tomou uma ducha gelada. Saiu enrolada na toalha e foi passar um café bem forte. Ainda não sabia como iria explicar para as pessoas sobre seu casamento não realizado. Estava em dúvida se conseguiria sobreviver à experiência e se um dia alguém acreditaria na história fantástica que ela vivenciara.

Seus pensamentos tumultuados em nada ajudavam e após tomar o café, Tatiana foi procurar uma roupa no armário. Não sabia bem porque, mas desejava parecer bonita, não para alguém, mas para agradar seu próprio ego. Assim, vestiu um vestido amarelo de algodão e ficou descalça. Ela necessitava desesperadamente virar a página de sua vida e não encontrava um início, um motivo.

Enquanto pensava, ela ouviu batidas na porta e seu coração descompassou. Um tremor incontrolável percorreu todo seu corpo e ela prendeu a respiração. Desejou desesperadamente que Paulo tivesse voltado a procurá-la, porém, a imagem de Elisabete surgiu em sua mente. Tatiana imaginou a mulher vindo assassiná-la e sentiu pânico. Olhou em torno para procurar outra saída. Seu coração parecia latejar em sua garganta, pronto para saltar pela boca. Mesmo assim, ela enfrentou seu sistema nervoso e alcançou a porta. Contou até três para criar coragem e finalmente abriu.

Sem convite, três moças irromperam a casa, alegres e tagarelas. Traziam consigo alguns pacotes que colocaram na mesa da cozinha e desembrulharam, revelando um verdadeiro banquete, com direito a bolo, salgados, geleia, pão e frutas. Tatiana ainda estava parada na porta semiaberta, esperando entender tudo aquilo. Finalmente reagiu, fechou a porta e veio abraçar as amigas.

- Fala a verdade, fala, você estava esperando a gente, não é? – disse Luíza.

- Não, eu...

- Fala sério, Tati! Você tem alguma bola de cristal escondida por aí – declarou Paloma, muito divertida.

- Bola de cristal? – Tatiana estava confusa.

- E a gente pensou que ia te encontrar de pijama, com olheiras, olhos inchados, cabelo em pé! Você tá bonitona, hein! – exclamou Natália, com descontração.

- Meu Deus! Como eu precisava de vocês aqui comigo – admitiu Tatiana, sorrindo de orelha a orelha.

- Tem certeza? Olha, é bom não rezar muito que Papai do Céu atende os pedidos da gente rapidinho – disse Paloma.

- É, Ele fala com todo mundo, menos comigo – reclamou Luíza.

- É porque você não sabe ouvir Ele – logo respondeu Natália.

Tatiana convidou as amigas para sentarem em torno da mesa e deliciaram-se com as guloseimas. Falaram de tolices, fofocas e futilidades, tudo para agradar e alegrar Tatiana, que não cabia em si de contentamento. Ninguém tocou no assunto do casamento, dando um ar de leveza àquela manhã de sábado.

- E agora me digam pra que tudo isso? – perguntou Tatiana, apontando para o alegre café da manhã preparado pelas três garotas.

- Pensei que você nunca mais ia perguntar – comentou Paloma. – Nós viemos fazer uma proposta bem interessante pra você...

- Tenho até medo de perguntar – falou Tatiana, divertida.

- Fala logo, Paloma – incentivou Natália.

- Não, fala você, Natália.

- Não, então você fala, Luíza.

- Já sei, vamos falar juntas. Um, dois, três... Nós viemos te convidar para dar um passeio no Centrooooooo!

Tatiana pensou um instante e as moças ficaram em silêncio. De repente, baixou um clima esquisito e todas se sentiram pouco à vontade. Mas a tensão se dissipou quando Tatiana anunciou:

- Aceito o convite. Eu ia mesmo dar uma volta por aí. E acompanhada é bem melhor.

Assim, Tatiana calçou as rasteiras, apanhou uma bolsa e seguiu abraçada com elas. A companhia das amigas fazia com que ela não pensasse no dia anterior. Parecia que nada havia acontecido e elas estavam se divertindo muito. Os comentários descontraídos não escolhiam lugar ou hora. Elas incentivaram Tatiana para comprar uma roupa nova e foram ao shopping Mueller ajudá-la a experimentar algumas peças. Quando observou sua imagem no espelho, Tatiana não se reconheceu, pois a combinação de roupas era totalmente fora de seu estilo. Mesmo assim, gostou daquele estilo descontraído e jovem. Retirou as etiquetas e saiu vestida com as roupas novas.

- Agora falta um corte de cabelo – anunciou Paloma.

- Boa ideia – ajudou Luíza.

- O que vocês vão fazer com meu cabelo? – perguntou Tatiana, assustada.

- Nós, nada. Quem vai fazer é o cabeleireiro. Vamos lá! – falou Natália, decidida.

Assim, encorajaram Tatiana a mudar o visual, coisa que ela mesma já havia pensado em fazer, mas não realizava suas intenções por medo do resultado. Então escolheu um corte através de sua foto no computador e tomou coragem para mandar cortar.

Depois, resolveram almoçar na praça de alimentação do próprio shopping e continuaram rindo e jogando conversa fora. As horas passaram rapidamente e elas nem se deram conta. Subitamente, dois sujeitos que trabalhavam na mesma empresa em outros setores pararam Paloma, Luíza e Natália, cumprimentando-as alegremente.

- Vocês não vão apresentar a amiga de vocês? – perguntou um deles, olhando maliciosamente para Tatiana, que ficou ruborizada. Paloma e Luíza caíram na gargalhada e eles não entenderam o que haviam dito de tão engraçado.

- Ela é uma das meninas que trabalha com a gente – respondeu Paloma, assim que conteve o riso.

- É, a Tatiana – emendou Luíza. – Vai dizer que não se lembra dela?

- É que... ela tá diferente. – Eles estavam admirados e deram beijos no rosto de Tatiana, que ficou ainda mais encabulada.

- Diferente, nada! Vocês é que nunca veem a gente direito – censurou Natália. – Vem, gente, vamos indo!

Elas seguiram para a escadaria da entrada principal do shopping, enquanto os dois homens continuaram parados, boquiabertos.

- Eu fiquei tão diferente assim? – indagou Tatiana, meio apreensiva.

- Que nada! Eles são uns chatos mesmo.

Elas acompanharam Tatiana até sua casa e em seguida voltaram para as próprias residências: Luíza para o Jardim Paraíso, Natália para o Vila Nova e Paloma para o Saguaçu.

Tatiana entrou na casa escura e foi direto para o quarto quando ouviu o telefone tocar. Devagar, ela se aproximou do aparelho e acendeu o abajur para verificar o número no identificador de chamadas. Toda a felicidade do dia foi apagada de sua face enquanto ela decidia se atendia a ligação. Ela suspirou quando o aparelho finalmente parou de chamar.

- Ele nunca me amou – afirmou ela, para se convencer a não procurar Paulo, pois amor era um sentimento que ela jamais poderia cobrar dele.

Entretanto, sabia perfeitamente que não poderia convencer seu coração a desistir do amor por ele. Tentaria evitar o reencontro, por mais que desejasse o contrário.

Ela trocou de roupa e deitou-se. O dia havia sido cansativo e ela não demorou a dormir. Não se permitira pensar em Paulo quando ouvira novamente o telefone, mas não era capaz de evitar que aparecesse em seus sonhos, seu amor refletido em seu subconsciente, incontrolável e de vontade própria.




CAPÍTULO 4 - PARTE III - O CASAMENTO


Faltavam algumas horas antes da cerimônia. Tatiana estava uma pilha de nervos e não via a hora de acabar com aquilo. Preparou uma mala com algumas roupas e pertences para levar para a casa de Paulo após o casamento que não iria se consumar. Ela nem conseguira comer. Vestiu o vestido branco de voal, penteou-se, calçou as sandálias e maquiou-se, tudo com o coração apertado de dor. Quando ela terminou de se arrumar, Valéria apareceu no portão, chamando por ela. Tatiana respirou fundo, apanhou a mala, apagou as luzes e despediu-se de seu lar tão estimado. Trancou a porta e seguiu para a rua, onde Valéria e Ernesto aguardavam-na. Ernesto colocou sua mala no porta-malas e Valéria abraçou-a.

- Você está linda! – exclamou ela. – Ainda não me conformo que você não vai casar na igreja para desfilar com um maravilhoso vestido de noiva.

Tatiana sorriu e entraram no carro. Dentro de minutos chegaram ao cartório. Ernesto conduziu-a até a sala onde se encontravam Paulo, o juiz de paz, Luíza, Paloma, Natália e os respectivos namorados. Paulo segurou suas mãos e beijou sua fronte.

- Tatiana, você nem imagina o quanto eu te agradeço – disse ele, sorrindo pela primeira vez em semanas.

- Não me agradeça, Paulo. Estou fazendo isso por amor.

As palavras escaparam-lhe dos lábios e ela arrependeu-se, por um momento, de tê-las proferido. Abaixou os olhos rapidamente sem coragem de encará-lo, mas ele, delicadamente levantou seu rosto e sorriu para ela como se tivesse compreendido.

O juiz de paz começou a cerimônia. Leu as informações civis e fez um breve comentário acerca da escolha feita pelo casal. Tatiana olhou para Paloma e Luíza, que sorriam para ela, dando-lhe força, e observou também Natália, que parecia sofrer junto com ela. Paulo tirou as alianças do bolso do terno e entregou para o juiz de paz. Este prosseguiu a cerimônia com a pergunta de praxe:

- Se existe algum impedimento para a união de Tatiana e Paulo, que fale agora ou se cale para sempre!

Houve silêncio no recinto e o juiz prosseguiu com a troca de alianças. Entretanto, antes que Paulo pudesse colocar a aliança no dedo de Tatiana, uma mulher apareceu dizendo:

- Eu tenho um impedimento, Sr. Juiz. Com todo respeito, aqui estão os papéis que provam que este homem está comprometido comigo.

- Isto não é verdade! – alegou Paulo, sem conter seu desespero.

Elisabete caminhou com segurança até Tatiana e falou-lhe sarcasticamente:

- Sinto muito, mas você não vai se casar com ele, querida.

O juiz de paz verificou os papéis e anunciou que eles eram legítimos. Paulo tentou negar, argumentando que o cartório não poderia errar. Se existisse algum registro anterior, não haveria possibilidade de anunciar seu casamento com Tatiana. Derrotado, ouviu a voz severa do juiz:

- Isso é um equívoco lamentável que verificarei pessoalmente e tratarei de punir.

Tatiana recebera uma espécie de choque paralisante e não reagiu quando Paulo seguiu Elisabete. Subitamente, um mal-estar generalizado tomou conta de seu organismo e ela perdeu os sentidos. Os convidados, que ainda estavam perplexos com a ocorrência, se apressaram a socorrê-la.
Após alguns minutos, Tatiana abriu os olhos e, confusa, observou as pessoas à sua volta. Tomou um gole de água com açúcar, que pareceu entorpecer seu corpo. Precisou de alguns segundos para lembrar onde estava e passado o momento da crise, ela levantou-se, necessitando urgentemente ficar sozinha.

- Você está bem? – perguntou Valéria.

- Estou.

- Vou levar você para minha casa. Que cafajeste esse Paulo te iludir desse jeito!

- Não – Tatiana murmurou cansada. – Quero ficar sozinha.

- Mas você precisa se recuperar...

- Se quiser mesmo me ajudar, me leve até minha casa, por favor... – pediu Tatiana, enquanto lágrimas desciam por seu rosto.

E assim, ela voltou para a solidão de seu quarto e deitou-se na cama como se uma força invisível tivesse arrancado toda sua energia. Apenas a memória continuava ativa, retrocedendo a fita de sua vida e voltando até o instante decisivo.




Já era madrugada quando, finalmente, Paulo fora liberado pelo advogado de Elisabete, após assinar o contrato. Paulo passara por uma espécie de treinamento pré-nupcial e foi orientado a voltar no dia seguinte. Exausto de lutar sem alcançar seus propósitos, voltou para casa e refletiu o quanto fora fraco ao se resignar com a tramóia. Sua consciência o acusava, exigindo que abandonasse tudo. Em seu corpo pesava a angústia, a fraqueza, o ódio por Elisabete, a descrença em Deus.

Ele sentiu-se sufocado e abriu a janela. O luar atingiu sua face e o ar fresco da noite atenuou seu mal-estar. Não era de seu hábito, mas ele observou as estrelas faiscantes no firmamento e visualizou mentalmente o rosto de Tatiana, quando esta lhe revelou: “Estou fazendo isto por amor”. A lembrança daquelas palavras era como um bálsamo para sua alma sofrida.

Paulo passou as duas mãos na cabeça e esfregou os olhos para impedir que as lágrimas fluíssem. Tentou controlar o impulso de ir até Tatiana e saber como ela estava. Desejou ardentemente tomá-la nos braços e provar que também a amava. Assim, caminhou confiante até a porta e virou a chave. Entretanto, resolveu não agir conforme seus instintos, porque não seria justo com ela. Ele refletiu que não tinha o direito de envolvê-la ainda mais em sua vida. Girou novamente a chave e rumou para a cozinha, disposto a qualquer loucura. Abriu uma gaveta e retirou uma faca afiada. A lâmina brilhava, convidativa. Um brilho macabro surgira repentinamente nos olhos dele e Paulo sorriu. Enfim, encontrara um meio para fugir do pesadelo.



CAPÍTULO 4 - PARTE II - A IDEIA BRILHANTE

Tatiana estava deitada em sua cama, agarrada ao travesseiro. A luz do abajur da mesa de cabeceira estava acesa e seu livro continuava do jeito que ela deixara à tarde antes de sair. Era hora do jantar, mas ela perdera o apetite. Perdera até mesmo a noção da hora, enquanto extravasava sua tristeza. Finalmente aprendera a escutar seu coração, porém, já era tarde demais, porque o futuro de Paulo já estava decidido.

Ela tratara-o mal tantas vezes e, naquele momento, arrependera-se amargamente por tê-lo ofendido, pois passara a conhecer o sofrimento que ele carregava dentro de si. Jamais pudera imaginar que ele se sentia responsável pela morte da esposa a quem amava acima de tudo. Em período algum poderia prever o destino que o aguardava. Quando ele pedira sua ajuda, Tatiana não deu importância ao gesto, mas lembrava-se dos olhos suplicantes à procura de paz.

Ela tranquilizou-se e releu mentalmente o contrato. Não havia o que contestar. Acusar Elisabete de fraude seria inútil, porque ela, com sua influência, reverteria a acusação a seu favor.

“Me ajude...”, ela lembrava, mas parecia um caminho sem volta, uma armadilha que jamais seria revelada. “Eu vou ajudá-lo”, pensou, transmitindo para si mesma firmeza e determinação. Tatiana lembrou de tudo o que ele havia mencionado e sentiu pena pelo fato de Paulo ser viúvo.

De repente, ela sentiu o coração bater mais forte. Poderia haver uma saída e ela correu para o telefone, querendo falar com Paulo sobre as possibilidades de seu plano. Para sua infelicidade, ouviu a mensagem “celular fora de área ou desligado” e resolveu esperar até o dia seguinte para telefonar-lhe, torcendo para que não fosse tarde demais. A expectativa era tão grande que ela mal conseguiu dormir.




Na manhã seguinte, ela consultou o sistema para encontrar o telefone da casa dele. Decepcionou-se ao constatar que o telefone convencional estava retirado. Lembrou de ligar para a Zilda do RH, mas o número do telefone que constava na ficha era o mesmo.

- Não pode ser – resmungou.

Tentou novamente o celular, mas continuava informando fora de área.

- Tem bloco de ASLA?

Ela levou um susto enorme. O rapaz de uniforme chegou de repente e ela estava sozinha na sala.

- Paulo?! O que faz aqui?

- Segui sua recomendação.

Ela recuperou-se do susto e rapidamente falou a respeito da ideia que tivera. Ele ouviu-a com atenção, enquanto ela explicava que ele não poderia casar com Elisabete se já estivesse casado com outra mulher. O casamento falso duraria o tempo que fosse necessário para esfriar a obsessão de Elisabete.

- Tatiana, os proclamas levam dias para correr e eu não tenho tanto tempo – protestou.

- O tempo é você que faz – respondeu Tatiana, quase sufocando de ansiedade. – Então não há um minuto a perder! Agora só falta uma mulher para ser a sua cúmplice.

- Eu não tenho ninguém a quem recorrer, Tatiana. Só se você...

- Não, Paulo, eu não posso – interrompeu, adivinhando o que ele queria dizer.

- Tatiana, por favor, você é a minha única chance... – implorou ele, com olhar suplicante e triste que ela aprendera a respeitar.

Mesmo que seu coração negasse, ela se convenceu a ser a esposa de mentira dele.

- Vamos precisar de testemunhas – declarou ele, enquanto sorria, na expectativa de ver-se livre de Elisabete.

- Deixe isso comigo. Vou pegar seu bloco de ASLA.

Paulo passou por Paloma, Natália e Luíza quando saiu da sala e as garotas entreolharam-se curiosas. Tatiana pediu para falar com elas e explicou tudo, inclusive a ideia de oficializar um casamento de mentira.

- Da nossa parte está tudo bem – falou Luíza. – Mas e você, como vai resistir à ideia de morar na mesma casa que o homem que ama e sem sequer tocar nele?

Tatiana sentiu o rosto arder e, perplexa, perguntou:

- Mas eu... eu não... Você está enganada.

- Não precisa se explicar. Tá na sua cara!

- Mas eu sou tão transparente assim?

- Não, imagina! – Elas riram para descontrair.

- Então vão me ajudar?

- Claro, só tem um problema: como vamos explicar pra Valéria que duas de nós precisamos sair do setor ao mesmo tempo? – indagou Luíza, preocupada.

- Simples: vamos contar a verdade pra ela – falou Tatiana, serenamente.

- O quê?! – indagaram as três garotas ao mesmo tempo.

- Só nós cinco vamos saber que o casamento vai ser falso, mas para o resto do mundo tem que parecer tudo real.

- Tem razão – concordou Natália. – A Valéria não pode te proibir de escolher a Luíza e a Paloma como testemunhas.

Dessa forma, tudo ficou combinado e Tatiana ligou para Paulo, que prometeu buscá-las para ir ao cartório de registro civil.

Valéria chegou às 10h30min, porque toda segunda-feira ela vinha dirigindo o próprio automóvel de sua casa em Florianópolis. Ela alugara um apartamento próximo da empresa e ali passava a semana. Logo que entrou no departamento, Luíza comentou:

- Valéééria... tenho um babado pra te contar...

- E o que é? – perguntou Valéria, interessada.

- Sabe quem vai casar?

- Ai, fala logo, não vou aguentar de curiosidade.

- A Tatiana e o Paulo, aquele instalador de L.A. (linha de assinante).

Valéria vibrou e abraçou Tatiana.

- E eu nem sabia que vocês estavam namorando...

- Faz pouco tempo, mas é o suficiente para tomarmos esta decisão – respondeu Tatiana, enquanto agradecia os cumprimentos. Ela lançou um olhar triste para Paloma, Luíza e Natália enquanto ainda estava abraçada a Valéria, e as garotas sinalizaram que ela mantivesse a calma e demonstrasse alegria. Então, Tatiana sorriu para Valéria e confirmou a verdade incontestável: – Eu o amo e só o que quero é ficar com ele pra sempre.

Valéria ficou satisfeita com os esclarecimentos e ofereceu ajuda.

- Preciso de ajuda, sim. Deixa nós três sairmos hoje para darmos entrada nos papéis? 

- Você três quem? – ela logo perguntou, prevendo algo de errado.

- Eu, a Paloma e a Luíza, que eu escolhi como testemunhas.

Valéria verificou se a produção estava em ordem e permitiu. Tatiana pulou de alegria, abraçando-a novamente.

- Eu gostaria que você e o Ernesto fossem meus padrinhos. Aceita?

- Mas é claro que sim!

À tarde, como combinado, Paulo apanhou-as na portaria da empresa. Paloma e Luíza sentaram-se no banco de trás e começaram a cutucar Tatiana e Paulo.

- Comportem-se como noivos, vocês dois! – disseram elas, tentando atenuar a situação embaraçosa que os dois estavam vivendo.

Paulo perguntou para Tatiana o quanto da história as garotas sabiam e não escondeu o desagrado diante da resposta de que elas conheciam todos os detalhes e seriam suas aliadas.

- Elas são minhas amigas, Paulo. Não fique perturbado, porque confio nelas.

- Não há como não ficar perturbado, Tatiana.

- Você deve tentar ficar tranquilo. Além do mais, é preciso que você tenha muitas testemunhas da cilada que foi preparada por Elisabete.

- Tem razão.

Eles encaminharam o registro de pacto antenupcial, registraram assinaturas e depois de encaminhar toda a documentação, marcaram o casamento civil para sexta-feira, no final da tarde. Voltaram para a empresa e informaram Valéria para se preparar, e esta desconfiou:

- Tatiana, me conta uma coisa: você está grávida?

- Eu? Claro que não! – Tatiana arrependeu-se por ter respondido depressa demais e tentou emendar: – Mas eu quero ficar grávida logo.

Valéria soltou uma gargalhada e tranquilizou-se.

Para não levantar suspeitas, o falso casal optou por uma cerimônia rápida e um jantar com poucos convidados. Os pais de Paulo eram falecidos e Tatiana não queria que seu pai e sua mãe compactuassem com aquela mentira. Além disso, não haveria tempo para prepará-los. Aliás, tempo era um detalhe com o qual eles não podiam contar.

Tatiana passou a semana inteira aflita cuidando dos preparativos. Olhou para um álbum onde ela aparecia com os pais e pensou: “Pai, mãe, me desculpem, mas estou fazendo isso por amor. Não gostaria que fosse dessa forma, e logo eu vou visitar vocês e contar toda a verdade”.

Paulo mergulhou no trabalho para evitar qualquer contato antecipado com Elisabete. Em casa mantinha-se escondido e durante o expediente prendia a respiração cada vez que o celular tocava. Porém, na sexta-feira, Elisabete ligou em um momento de grande tumulto com uma instalação que o assinante, exaltado, rejeitara.

- Já assinou os papéis, Paulo?

- Já – respondeu ele. – Mas voltei a trabalhar e não tive tempo de falar com você.

- Para que trabalhar, querido? O contrato garante sua vida...

- Mas não me impede de exercer uma profissão – atalhou ele.

- Paulo, você está me fazendo de palhaça! Quando é que você vai vir?

- Amanhã, Elisabete, amanhã – respondeu ele, tentando ganhar tempo. – Pode marcar com seu advogado, que estarei aí amanhã à noite.

- Ótimo.

Ela pareceu satisfeita e desligou. Paulo respirou aliviado.




CAPÍTULO 4 - PARTE I - O CONTRATO DE CASAMENTO

Sozinha na pequena casa que alugara no bairro Costa e Silva, Tatiana redigia uma trama policial que exigia todo seu raciocínio. Concluiu o capítulo e resolveu parar, porque só então sentira a dor provocada pela caneta que afundara em seu dedo médio. “Lutar por um sonho exige seus sacrifícios”, pensou ela, massageando o calo duro. Depois olhou os raios de sol que penetravam pela janela e decidiu sair para curtir a tarde de domingo do gostoso dia de outono. Assim, apanhou sua bicicleta e pedalou muitos quilômetros, apreciando todos os detalhes.

Depois de uma hora mais ou menos, ela chegou ao parque infantil que ficava próximo do campus universitário no bairro Bom Retiro, onde dezenas de crianças se divertiam e resolveu parar para descansar antes de voltar para casa. Apoiou a bicicleta em um banco e olhou ao redor. Não havia adultos por perto e Tatiana sentiu uma vontade incontrolável de se misturar às crianças. Lembrou de Paloma naquele instante enquanto refletia se seguiria seu impulso, pois a amiga sugeria que Tatiana ouvisse seu coração. “Se o coração nunca se engana, então é isso que ele quer me dizer?” Finalmente ela tomou a decisão e foi até um grupo de meninas que brincavam de pega-pega, onde perguntou se podia brincar. Sorriu após ser aceita no grupo, voltando no tempo e, a não ser pelo tamanho, era novamente uma criança de cinco anos, despreocupada e feliz.




Paulo estava apreensivo quanto à própria reação quando chegou na casa de Elisabete, porque era o primeiro encontro cara-a-cara depois de toda a trapaça armada por ela.

Entretanto, agindo com naturalidade, ela o atendeu, levando-o até um cômodo da casa, onde funcionava um pequeno escritório. Sentado à frente da escrivaninha, um homem vestido formalmente segurava uma pasta de couro.

- Este é o Dr. Augusto Campos, meu advogado – apresentou Elisabete, observando divertida a expressão interrogativa que dançava nos olhos de Paulo. – Ele está aqui para oficializar nosso contrato de casamento.

- Contrato de casamento? – Paulo enrugou a fronte, incapaz de acreditar. – Do que está falando?

- Você sabe muito bem. Você aceitou viver comigo e não irá se arrepender. Eu farei minha parte e trouxe o Dr. Augusto aqui para garantir que você faça a sua.

- Não precisa disso, Elisabete. Já dei minha palavra que...

- Palavras faladas dançam ao sabor da brisa, meu querido. Elas podem mudar de direção a qualquer instante. Palavra no papel, com reconhecimento de assinatura não! Está ali alegando a verdade incontestável do contrato. – Ela percebeu que Paulo se surpreendia cada vez mais e continuou: – Não fique assim, você vai acabar se acostumando, porque terá muitas vantagens e não precisará mais trabalhar.

- Mas eu gosto de trabalhar honestamente. Não nasci para ser gigolô de mulher alguma.

- Não veja as coisas por este prisma. Você será meu protegido.

- Protegido coisa nenhuma! – Desta feita, ele reagiu energicamente. – Entenda uma coisa, Elisabete: eu não amo você, pelo contrário, te odeio e te desprezo. Como acha que poderemos viver sem amor?

- Amor? – Elisabete fez sinal para o advogado e juntos riram sonoramente. Paulo continuou sério, imaginando o que havia dito de tão engraçado.  – Admira-me você, um homem sarado, jovem, atraente, falar de amor. Isso não existe. O que existe e vale à pena é o interesse.

- Está enganada, Elisabete. Eu mesmo já vivi o amor com uma pessoa que...

- Ah, é? – interrompeu ela. – Eu já sei que você foi casado com Evelin Cavichiolli durante quatro anos, mas ela nunca foi capaz de te dar um filho e morreu vítima de sua obsessão em engravidar.

Paulo sentiu a sala girar ao ouvir o nome de sua esposa e de informações tão pessoais. Ele estava disposto a ceder à chantagem daquela mulher sem escrúpulos em troca da liberdade, mas por um minuto, teve o ímpeto de desistir de tudo e voltar para a cela fétida da delegacia.

- Como sabe tanto sobre minha vida? – perguntou ele, respirando irregularmente.

- Solicitei ao Dr. Augusto uma investigação minuciosa sobre você depois daquela reação excêntrica em nosso primeiro encontro. – Ela apanhou o dossiê e estendeu-o para Paulo, que apanhou o documento e leu seu nome na capa. – Está tudo aí: datas, registros, certificados escolares, relacionamentos amorosos, participação religiosa... – Ela fez uma breve pausa. Paulo empalidecera e ela aproveitou para lançar o desafio, pois sabia que após a morte da esposa, ele jamais voltara a tocar seu violão. – A propósito, quero que você toque para mim algum dia destes.

- Eu só toco para pessoas que merecem – argumentou ele, perplexo. Ele atirou o dossiê contra a escrivaninha e fungou como se estivesse chorando. O comentário de Elisabete atingira seu ponto fraco. Ele pigarreou, como era de seu costume quando ficava nervoso e perguntou: – Mas como conseguiram tudo isso?

- Eu e o Dr. Augusto temos nossos meios, não é?

Paulo viu o gesto discreto de Augusto, que indicava dinheiro e deduziu que eles usaram o mesmo artifício para convencer o delegado a retirar as acusações e ainda limpar seu nome diante da sociedade. Como se pudesse ler seus pensamentos, Elisabete prosseguiu:

- O delegado é boa pessoa. Tem filhos pequenos para criar. As contas estavam atrasadas. Um vírus de computador apagou algumas fichas criminais, inclusive a sua. Sabe, as palavras até têm algum valor nestes casos.

- Não posso participar desse carnaval de corrupção!

- Chega de explicações. Dê a ele os papéis, Dr. Augusto.

Augusto tirou os documentos de dentro da pasta, retirou uma caneta banhada a ouro e sinalizou os locais onde Paulo deveria assinar. Este, entretanto, sofreu uma apatia momentânea e não teve forças para tomar qualquer iniciativa.

- Dê-me pelo menos uma chance de ler com calma – pediu ele.

- O que acha, doutor? – Este assentiu e Elisabete permitiu que Paulo levasse os documentos. Ele colocou os papéis no bolso da camisa e já ia se retirando do escritório, quando foi novamente chamado por ela. Sem virar-se, ouviu a voz ameaçadora de Elisabete: – Espero que não seja tolo a ponto de jogar os papéis no lixo. Se isso acontecer, em vez de contrato de casamento, você terá documentos criminais esperando por sua assinatura.

Paulo nada falou e deixou a casa. Sua mente estava em turbilhão e seu corpo enfraquecido. Embarcou no primeiro ônibus que passou e só se deu conta quando o veículo estacionou no terminal João Colin. Embarcou então na linha Bom Retiro e novamente perdeu a noção de tempo e espaço. Quando percebeu, já havia deixado passar o ponto e o ônibus estava chegando à Univille. Sem muito pensar, Paulo desembarcou e inconsolável pelo desequilíbrio emocional que Elisabete criara, se sentou no banco onde uma bicicleta estava encostada e curvou o corpo para frente.

Uma cena curiosa fez com que Paulo esquecesse momentaneamente o desfecho que sua vida estava recebendo. Havia uma moça brincando na piscina de areia juntamente com pelo menos dez crianças com idades equivalentes a quatro ou cinco anos. Ela usava roupas esporte, estava com os cabelos desgrenhados a cair em seu rosto, e os tênis haviam sido descuidadamente jogados do lado de fora da piscina. As crianças a enchiam de areia, tentando moldar bonecos em seu corpo e a moça se divertia, soltando sonoras gargalhadas. A situação cômica trouxe um sorriso aos lábios dele.

Naquele instante, a moça ergueu a cabeça e puxou os cabelos para trás, sorrindo com ar de gratuita felicidade. O olhar dela desviou-se para a bicicleta e depois para Paulo e, surpreso, ele viu tratar-se da moça que trabalhava na área administrativa do Consórcio.

Por sua vez, Tatiana, ao se deparar com ele, sentiu um calor no rosto, notou suas roupas sujas de areia e ficou constrangida. E mais que isso, sentiu medo dele, apesar de acompanhar que Elisabete se enganara ao acusá-lo. 

- Acho que você está em apuros – disse ele, com um sorriso conciliador, enquanto aproximava-se da piscina de areia.

- Acho que sim – respondeu Tatiana, levantando-se e provocando um murmúrio de lamento entre as crianças.

Ela saiu da piscina de areia e abaixou-se para calçar os tênis, tomando o cuidado para não perder Paulo de vista. Em seguida, aproximou-se do banco onde estava a bicicleta e sacudiu a areia da camiseta.

- Nunca pensei que pudesse ver você desse jeito – disse ele, voltando a sentar-se.

- Que jeito? – logo perguntou, desconfiada.

- Assim, despreocupada, brincando.

- E suja, você quer dizer.

- Suja? – Ele fez um gesto de surpresa. – Você é a calamidade pública em pessoa!

Tatiana fez um esforço para ficar séria e zangada com ele, mas não conseguiu. Um pouco mais tranquila, ela resolveu sentar-se ao lado dele e observou a expressão séria que surgira em seu rosto.

- Sabe, você salvou o meu dia – falou ele, enquanto torcia as mãos nervosamente.

- Eu? Por quê? – Ela enrugou a fronte, demonstrando surpresa.

Ele calara-se e Tatiana percebeu que ele ficara inseguro. Naquele momento, ele demonstrava ser a criatura mais frágil do mundo e ela não encontrou vestígios de seu temperamento agressivo. Imaginou como ele sofrera com a acusação, mesmo sendo inocente e não encorajou o diálogo. Em vez disso, levantou-se para pegar a bicicleta.

- Não vá embora – pediu ele, gentilmente. – Eu não respondi sua pergunta porque acabei me perdendo em uma viagem alucinante. Desculpe.

Como autora do Manual da Viagem, Tatiana não deixou de se impressionar com o comentário e voltou a se sentar. Sem cerimônia, ela começou a falar sobre suas criações, seus anseios, suas metas. Descreveu, com orgulho, os personagens que ganhavam vida em suas narrativas ficcionistas. Afirmou que a pessoa que se aventurasse a ler suas histórias se envolvia naturalmente a cada página. Também admitiu a forte tendência ao maniqueísmo.  Ela acabou sua narrativa e voltou a pensar em como se enganara com a personalidade de Paulo, pois ele a ouvia com atenção e interesse.

Enquanto a ouvia, Paulo recordava o momento em que a encontrara suja de terra, brincando com as crianças. Ficou tão encantado que esquecera o ódio e o rancor que sentia por ela.

- E você? O que tem feito da vida? Ouvi dizer que a Integração vai te contratar novamente – perguntou Tatiana subitamente, imaginando uma resposta casual. Porém, ela se arrependeu de ter perguntado, pois sentiu que ele se fechara outra vez e lamentou por ter sido tão especulativa.

Paulo, ao contrário do que ela esperava, contou toda sua história desde o dia em que conhecera Evelin até o dia de sua morte. Falou da solidão e do remorso, do estresse com o trabalho e ainda pediu desculpas por ter sido grosseiro com Tatiana nas vezes que a encontrava. Além disso, narrou seu envolvimento com Elisabete.

- E foi por essa razão que disse que você salvou o meu dia – finalizou.

- Que coisa mais absurda! Quem ela pensa que é? – Tatiana ficara revoltada. – O que pretende fazer agora? 

- Primeiro tenho que tentar entender essa porcaria de contrato – disse ele, retirando o documento do bolso.

Tatiana desdobrou o papel, mas não compreendia muito bem a linguagem jurídica. Apenas entendeu que o contrato assemelhava-se a um contrato normal de trabalho, com a diferença de que Paulo estaria recebendo dinheiro em troca de préstimos que Tatiana preferiu não ler em voz alta..

- Ou assino essa droga ou vou para a cadeia. Você sabe o que vão fazer comigo lá apesar de eu não ser culpado?

- Posso imaginar.

- Eu deveria saber que esta seria sua resposta. Esqueci que estou diante de uma escritora.

O comentário dele soou sarcástico e provocativo e Tatiana ressentiu-se. 

- E eu devia ter imaginado que cedo ou tarde você iria se revelar o grosso que é!

Ela levantou-se de um salto e embarcou na bicicleta, mas antes de tomar impulso para pedalar, Paulo agarrou fortemente seu braço. Os olhos de ambos se encontraram e Tatiana sentiu-se hipnotizada. Aquele instante pareceu eterno. Ela desviou os olhos para a mão que segurava seu braço e Paulo soltou-a lentamente, arrependido por tê-la magoado.

- Tatiana, me ajude.

-Se quiser um conselho – respondeu ela, calmamente –, ou melhor, uma recomendação, acho que você devia engolir esse orgulho e aceitar seu emprego de volta. Seu contrato de casamento não o proíbe de exercer uma profissão.

Em seguida, Tatiana se foi, deixando Paulo à mercê de seu destino.